Como a alta da Selic e do IOF impactaram o mercado de seguros

Receita total cai 3,43%, mas seguros de vida e empresariais crescem acima dos 12% no acumulado de 2025

 Calculadora e gráficos financeiros representando o impacto da alta da Selic e do IOF no mercado de seguros brasileiro em 2025

Em setembro, a SUSEP divulgou os dados do setor referentes aos nove primeiros meses de 2025, e um ponto chamou a atenção do mercado: uma queda de 3,43% no volume total de prêmios em comparação ao mesmo período de 2024.

Paralelamente, produtos como seguro de vida e seguro empresarial apresentaram crescimento expressivo, com altas de 12,3% e 17%, respectivamente.

Embora o mercado esteja em queda, isso não reflete uma retração generalizada. Eesse movimento ocorre graças a alta da taxa Selic, que se encontra em 15% ao ano, e na tributação de 5% sobre o IOF sobre contribuições altas ao VGBL. Combinados, esses fatores tornaram a previdência privada menos atrativa para quem investe valores elevados, enquanto seguros tradicionais ganharam força.

 
Quem puxou a queda no mercado

A taxa Selic no mês de novembro de 2025 se encontra a 15% ao ano, maior patamar desde 2006. Para quem lembra, em setembro de 2024 ela estava em 10,75%. Em pouco mais de um ano, o Banco Central elevou os juros em 4,25 pontos percentuais, movimento que mexeu com muitas aplicações financeiras do país.

Na prática, isso significa que produtos de renda fixa como CDBs, Tesouro IPCA+ e debêntures passaram a render mais do que a um ano atrás. E quando o mercado mostra um cenário de alta rentabilidade com baixo risco, produtos de longo prazo como a previdência privada perdem desejo dos investidores.

 
IOF de 5% retrai interesse no VGBL

Em maio de 2025, o governo publicou um decreto nº 12.499/2025, que alterou as regras dos impostos financeiros brasileiros. A partir daquele momento, quem aportar mais de R$ 300 mil por ano em um mesmo plano VGBL passa a pagar 5% de IOF sobre o valor que ultrapassar esse limite. A partir de 2026, o teto sobe para R$ 600 mil..

O impacto foi imediato. 

Segundo projeções da CNseg e da Fenaprevi, os aportes ao VGBL devem cair 19,4% em 2025de R$ 178,26 bilhões no ano passado para R$ 143,68 bilhões neste ano. Só em junho, a captação líquida do setor ficou negativa em R$ 3,1 bilhões.

“O VGBL é um instrumento de proteção financeira da classe média e do microempreendedor, que não pode ser penalizado por ter atitude previdente”, afirmou Edson Franco, presidente da Fenaprevi, ao comentar as mudanças.

Para investidores de alta renda, a conta ficou simples: por que pagar 5% de IOF na entrada do VGBL se a renda fixa está pagando 15% ao ano sem essa tributação extra? A resposta veio em forma de migração de capital.

 

Enquanto isso, seguros se fortalecem

Do outro lado da moeda, os seguros de proteção estão vivendo um momento de expansão. O seguro de vida cresceu 12,13% em termos nominais e 6,59% em termos reais. Seguro auto avançou 6,12%. Os seguros empresariais, como o Compreensivo Empresarial, subiram 16,8%.

O seguro habitacional cresceu 12,9%, impulsionado pela expansão do mercado imobiliário e pelo aumento de 43,3% nas vendas do programa Minha Casa Minha Vida. Riscos de Engenharia dispararam 34,6%, refletindo o maior volume de obras no país.

A sinistralidade, que mede quanto as seguradoras pagam em indenizações em relação ao que arrecadam, fechou o primeiro semestre de 2025 em 41,9%, o menor índice desde 2014. Isso significa que as seguradoras conseguiram precificar bem seus produtos e ainda assim crescer.

Quem trabalha no setor sentiu a mudança. Corretores especializados em seguros empresariais relatam aumento de consultas sobre coberturas de responsabilidade civil, interrupção de negócios e proteção cibernética. Empresas que cresceram em 2024 agora buscam proteger o patrimônio acumulado.

 
Por Que as Pessoas Estão Comprando Mais Seguros?

Três fatores explicam esse movimento. Primeiro, a percepção de risco aumentou. As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em maio de 2024 ficaram na memória coletiva. Naquele mês, a sinistralidade de seguros de danos saltou de 42,1% para 66,1%, com R$ 1,69 bilhão só no Rio Grande do Sul.

Segundo, a economia aquecida de 2024 gerou acúmulo de patrimônio. Quem comprou imóvel, trocou de carro ou expandiu o negócio naturalmente busca proteção para esses bens. É um ciclo: crescimento econômico gera patrimônio, patrimônio demanda proteção.

Terceiro, a estrutura tributária . Enquanto o VGBL ganhou IOF de 5%, os seguros tradicionais mantiveram o mesmo tratamento fiscal de sempre. Na comparação direta, ficaram relativamente mais baratos.

 
O Que Esperar de 2026

O Banco Central projeta Selic em 12,5% ao ano para o final de 2026. Se a taxa realmente cair 2,5 pontos percentuais, o VGBL deve recuperar parte da atratividade — especialmente após 2026, quando o limite de isenção do IOF sobe para R$ 600 mil.

Para investidores que aportam entre R$ 300 mil e R$ 600 mil por ano, a equação pode voltar a fazer sentido, principalmente considerando planejamento sucessório e diferimento tributário.

Os seguros tradicionais devem manter ritmo de crescimento entre 8% e 10%, sustentados por demanda estrutural. A digitalização de processos e personalização de produtos tendem a reduzir custos e ampliar o mercado.

O grande risco continua sendo climático. A BB Seguridade, que teve sinistralidade de 28,9% no segmento agrícola em 2024, projeta índice um pouco mais alto para 2025. “Não dá para assumir que a sinistralidade permaneça na mínima histórica dois anos seguidos”, disse Rafael Sperendio, diretor financeiro da empresa.

 
Um setor em transformação

Os números divulgados nos mostram um mercado se ajustando a novas condições. Produtos de acumulação perdem espaço para produtos de proteção. A baixa sinistralidade confirma que as seguradoras estão precificando bem seus riscos. 

O lucro do setor no primeiro semestre ficou 11,3% acima do mesmo período de 2024, mostrando que o negócio permanece saudável.

Para 2026, a expectativa é de reequilíbrio gradual: recuperação parcial da previdência privada conforme os juros caem, e manutenção do crescimento dos seguros tradicionais.