
Panorama Atual do Seguro Rural no Brasil
O mercado brasileiro de seguro rural atravessa um momento paradoxal. Enquanto os eventos climáticos extremos se intensificam e expõem a vulnerabilidade da produção agrícola nacional, a cobertura oferecida pelo setor permanece abaixo do necessário.
Dados recentes do setor segurador revelam que a área protegida por seguro rural passou de 14 milhões de hectares em 2023 para apenas 7 milhões de hectares em 2024, uma retração de quase 50%.
As projeções indicam que essa cobertura pode recuar para menos de 5 milhões de hectares em 2025, representando apenas 6,11% da área de plantio prevista para a safra de grãos.
Essa redução drástica está diretamente relacionada à contenção de recursos do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR).
O governo federal destinou R$ 1 bilhão ao programa em 2024, volume considerado insuficiente pelas entidades do setor, que solicitaram R$ 2,8 bilhões adicionais para atender a demanda dos produtores.
O Papel Estratégico do Seguro na Transição Sustentável
Durante o seminário “Pré-COP30 – A Casa do Seguro”, promovido pela CNseg, especialistas de diferentes setores concordaram em um ponto fundamental: o seguro rural vai muito além de proteção financeira.
Ele funciona como ferramenta essencial para viabilizar a transição para um agronegócio mais sustentável e preparado para enfrentar os desafios climáticos.
Fátima Lima, presidente da Comissão de Integração ASG da CNseg, resumiu bem essa perspectiva: o seguro cria uma ponte entre risco climático, resiliência e segurança para toda a cadeia do agronegócio.
O seguro protege desde produtores até investidores e instituições financeiras, criando um ecossistema integrado de proteção e desenvolvimento sustentável.
Adaptação Climática como Política Pública
O secretário nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Aloisio Lopes, apresentou a evolução do Plano Clima brasileiro, que vai orientar as políticas nacionais sobre o tema até 2035.
O documento traz 16 planos setoriais em desenvolvimento, incluindo um específico para a agropecuária. O Brasil já sente na prática os efeitos das mudanças climáticas.
Para Lopes, fortalecer o seguro rural como instrumento de proteção é peça central das estratégias de adaptação do setor produtivo.
A proteção oferecida pelo seguro vai além de repor perdas financeiras: ela permite que a atividade continue e que o produtor possa investir em tecnologias mais modernas.
O secretário também destacou o potencial das soluções baseadas na natureza. Recuperar a vegetação nativa é uma das formas mais eficientes de remover carbono da atmosfera.
O desafio é reconhecer e valorizar adequadamente os benefícios ambientais que essas áreas preservadas oferecem.
Dados e Tecnologia como Alicerces
Guilherme Bastos, coordenador da FGV Agro, reforçou a necessidade de políticas públicas mais fortes e do melhor uso dos dados disponíveis.
A Fundação Getúlio Vargas criou recentemente um Observatório do Seguro Rural, demonstrando a preocupação com o tema e a importância de acompanhar a evolução do setor.
A análise acadêmica traz um dado preocupante: hoje, apenas 3 milhões de hectares têm cobertura de seguro no país.
Bastos vê isso como uma questão estratégica que deveria chamar mais atenção, especialmente quando pensamos no papel do Brasil como potência agroalimentar global.
Inovação e Monitoramento
O avanço das tecnologias de satélite e de previsão climática representa um ganho significativo para o seguro rural brasileiro.
Bastos destacou que ter informações confiáveis de monitoramento e verificação é fundamental para o mercado evoluir.
Usar métodos de autodeclaração combinados com verificação via satélite permite criar seguros mais modernos, precisos e com custos menores.
Essa transformação tecnológica torna o produto mais acessível para os produtores e ajuda as seguradoras a gerenciar melhor os riscos e definir preços mais justos.

A Visão do Setor Produtivo: Seguro como Condição de Sobrevivência
Ricardo Sassi, diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB), trouxe a perspectiva clara de quem está no campo.
O Brasil já tem uma base produtiva sustentável expressiva, com apenas um terço do território ocupado pela agropecuária. Mas os desafios climáticos crescentes tornam o seguro absolutamente essencial para quem quer continuar produzindo.
A análise de Sassi é direta: sem seguro agrícola adequado, será impossível para o produtor se manter na terra nos próximos 10 a 15 anos.
Os riscos climáticos fogem do controle do produtor, e o seguro é a única ferramenta capaz de oferecer proteção real contra perdas que podem inviabilizar completamente a atividade.
A Questão da Subvenção Pública
Todos os especialistas concordam: é preciso ter apoio público robusto e previsível para o seguro rural funcionar.
Sassi foi direto ao ponto: não existe modelo de seguro agrícola bem-sucedido em lugar nenhum do mundo sem forte apoio do governo.
Isso não significa que o mercado falhou. Significa reconhecer que o seguro rural cumpre uma função estratégica que vai além do negócio em si.
Proteger a capacidade produtiva do país, garantir segurança alimentar e estabilizar a renda no campo são objetivos que justificam o investimento público no fortalecimento do sistema de seguro rural.
Desafios Estruturais e Oportunidades
O Gap de Proteção Brasileiro
A tragédia no Rio Grande do Sul em maio de 2024 mostrou de forma dramática o quanto o país está vulnerável.
Das perdas de R$ 100 bilhões, apenas 6% tinham cobertura de seguro. Isso significa que R$ 94 bilhões em prejuízos ficaram nas costas do poder público e dos próprios afetados.
Essa falta de cobertura não é problema só do seguro rural, mas é especialmente crítica nesse setor por causa da exposição direta aos fenômenos climáticos extremos.
O que antes era exceção virou o “novo normal” — eventos climáticos mais frequentes e mais severos fazem parte da realidade atual.
Necessidade de Escala
O seguro rural tem uma característica específica: precisa de escala, e isso leva tempo para acontecer.
Enquanto o mercado cresce, as empresas precisam investir pesado, o que torna o apoio público ainda mais importante nessa fase.
Quanto mais amplo e maduro o sistema de seguro rural, menor o risco para as seguradoras. Isso resulta em produtos mais acessíveis e estimula ainda mais gente a contratar.
Mas esse círculo virtuoso precisa de investimento constante e condições adequadas para se desenvolver.
A COP30 e o Protagonismo do Setor Segurador

Executivos do setor segurador no evento Casa do Seguro Pré-COP30 em Brasília, outubro de 2025. ReproduçãoCNseg
A realização da COP30 em Belém, em novembro de 2025, representa marco significativo para o setor segurador brasileiro.
Pela primeira vez em uma Conferência do Clima, a indústria seguradora terá um pavilhão próprio — a Casa do Seguro, espaço oficial da CNseg que funcionará durante os 11 dias do evento.
A iniciativa posiciona o setor como ator estratégico nas discussões sobre transição climática, evidenciando três papéis fundamentais que o seguro desempenha.
O setor atua como gestor de riscos climáticos, consultor de estratégias de mitigação para governos e empresas, e grande investidor na economia verde.
Perspectivas e Recomendações Estratégicas
Para o Setor Público
A ampliação e estabilização do orçamento do PSR emerge como prioridade incontornável.
O volume de recursos destinados ao programa em 2024 e 2025 mostra-se claramente insuficiente para atender a demanda dos produtores e cumprir os objetivos estratégicos de segurança alimentar e resiliência produtiva.
A integração do seguro rural às estratégias mais amplas de adaptação climática, como previsto no Plano Clima, representa caminho promissor.
Isso inclui reconhecer o seguro não apenas como mecanismo de compensação, mas como instrumento habilitador de práticas produtivas mais sustentáveis e resilientes.
Para o Setor Produtivo
A contratação de seguro rural precisa ser compreendida não como custo adicional, mas como investimento em continuidade operacional e gestão de riscos.
Diante da intensificação dos eventos climáticos extremos, a proteção adequada torna-se condição necessária para a viabilidade de longo prazo da atividade agrícola.
A busca por assessoria especializada na escolha das coberturas adequadas ganha relevância crescente.
As características específicas de cada propriedade, cultura e região exigem análise técnica criteriosa para garantir proteção efetiva sem comprometer a viabilidade econômica da operação.
Instituições Financeiras
O reconhecimento do seguro rural como componente essencial da análise de risco em operações de crédito ao agronegócio representa evolução necessária.
Propriedades adequadamente seguradas apresentam menor risco de inadimplência e maior capacidade de honrar compromissos financeiros mesmo diante de adversidades climáticas.
A alocação de recursos em produtos e soluções que fortaleçam o ecossistema do seguro rural alinha-se às diretrizes ESG.
Essas iniciativas também atendem aos compromissos de financiamento sustentável assumidos pelo setor financeiro brasileiro.
A Integração de Soluções
A análise das perspectivas apresentadas no seminário da CNseg mostra um consenso fundamental: o seguro rural é instrumento indispensável, mas sua efetividade depende da integração com outras soluções.
Combinar tecnologias de monitoramento via satélite, previsão climática avançada e práticas produtivas sustentáveis cria um sistema onde cada peça potencializa as demais.
Recuperar áreas degradadas e valorizar os benefícios ambientais fortalecem esse sistema integrado de proteção e desenvolvimento.
As soluções baseadas na natureza ganham destaque especial nesse contexto. Recuperar vegetação nativa não apenas ajuda a capturar carbono e regular o clima, mas também torna as propriedades mais resistentes.
Essa estratégia reduz a exposição a riscos como erosão, falta de água e eventos climáticos extremos.
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